terça-feira, 8 de outubro de 2013

O Caminho da Lótus Sagrada




O Caminho
 da
Lótus Sagrada

Kwan Yin é um ser muito antigo que jurou reencarnar aqui neste plano até que todos os seres sencientes estivessem livres da condição de sofrimento. Esta tarefa é possível se pensarmos em milhares de anos ou da própria existência do planeta.
Quando atingimos um certo grau de conhecimento e amor é possível a escolha de auxiliar ficando aqui ou elevando-se para outras dimensões.
As praticas do budismo que são muito similares ao espiritismo e ao espiritualismo universal, sendo destes o irmão mais velho e sábio muitas vezes não são realizadas devido a diferença cultural e ao tempo que podemos dedicar a elas para nos tornarmos seres conscientes, de mente e coração leve e sereno,  com uma vida desapegada de mitos, ilusões, medos e sofrimentos. Chamamos isso de estado de iluminação.
O Caminho da Lótus não exclui suas praticas espirituais mas sim agrega-se a elas, embora se o praticante quiser pode tê-la como via principal. São muitos os caminhos para luz, o Lótus é uma via de evolução por amor, leveza de coração, paz e serenidade que pode ser alcançado por qualquer pessoa. Depois a luz de Kwan Yin transborda para sua família, cidade, estado e para todo planeta, mesmo que ninguém além de você pratique. Lótus é amor sem dogmas, desapegado e feliz. Suas praticas são simples e já operaram o que chamamos de vários “milagres”. Um praticante de Lotus sabe o que acontece nestas bênçãos, compreende e tem consciência usufruindo disso livremente e com sabedoria.
Na Lótus consideramos a reencarnação um fato e não uma crença de base, pois já existem milhares de evidências científicas a respeito disso. Os seres “de luz” como seres das mais diversas naturezas todos ligados a nós simplesmente por pertencermos ao ecossistema cósmico. E nele aprendemos desde a meditar até entrar em sintonia com a luz e as pessoas que vivem nas diversas dimensões como uma única comunidade. Aprendemos a desapegar do ego, que longe de ser vaidade, é a presença de travas de crenças que nos separam do todo, remover nossas ilusões, limpar o coração e serenar a mente, ensinando a ela como não reagir forma dolorosa, mas gerar mais e mais felicidade interna e externa, como nos relacionarmos e limparmos nosso carma familiar.
Para muitas doutrinas budistas para se atingir a iluminação precisamos abdicar de tudo, inclusive da família, que figuraria na nossa vida com o mero papel de nos trazer ao mundo e dar a base, o que colidiria de forma terrível com a união familiar pregada pelos cristãos. Também disseram, e não nos esqueçamos que budistas são antes de tudo seres humanos e isso inclui o próprio Buda com suas próprias crenças, que para atingir a iluminação a encarnação deveria ser de homem, e muitas das lendas dizem que Kwan Yin então jurou reencarnar como mulher até que eles mudassem isso ou vissem como bobagem. Assim, a Lótus veio ensinar a lição de acordo com o mundo em que vivemos, que pararia se todos resolvesse abdicar de tudo (não haveria comida para ninguém, não nasceria ninguém, etc...), um mundo onde já estão reencarnados seres que já se iluminaram e voltaram para auxiliar inclusive suas famílias, como podemos ver nas narrativas espíritas e que se reencarnamos cada vez de um modo diferente, pouco importa se somos homens ou mulheres, se somos casados ou celibatários, se vivemos com alguém do mesmo sexo ou de gênero oposto, pois com a pratica devida e atingindo o estado de luz certo e desenvolvendo um amor tão grande a ponto de espontaneamente nos abrirmos para o mundo, que não se distingue de nós mesmos, e auxiliarmos na obra toda conscientemente então sim podemos nos iluminar e começar a nova jornada que é ser um iluminado atuando e auxiliando os seres naturalmente por amor. ´
É necessário compreender que temos muitas existências e planos a percorrer na evolução porque cada um deles tem algo a ensinar. Numa vida somos budistas, na outra islâmicos, na outra céticos, agnósticos, bruxos, católicos e tudo o mais. Em cada uma temos um aprendizado e as vezes muitas semelhantes até que tudo seja compreendido. O sincretismo, a migração de pessoas e crenças sendo durante a existências carnal ou nas vivências em espírito faz parte da evolução. A Lótus é um presente para o agora para complementar e ser uma via possível sem as amarras do passado e quiçá evolua com o próprio ser.
Imagine meditar e sentir a si mesmo na palma de sua mão e aos poucos ter consciência de todo seu ser. Imagine poder auxiliar sua família e tratar conscientemente seu carma familiar e auxiliar no de tantos outros, melhor ainda: sem medo. Aprender a abrir o coração e sentir uma amor somente narrado em filmes e livros que falam de Deus ou Budas. Você sentí-lo, vivenciar é o maior dos aprendizados é a mais bela experiência.


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Seria o budismo uma religião de elite?



Budismo religião da elite – e foi assim que os ensinamentos de Siddharta Gautama chegaram em muitas regiões, pois meditar e estudar ainda é privilégio de alguns mas não de todos.
Nas  massas de humanos ainda tem aqueles que carecem de  higiene, de base, de falta de tudo. Ainda tem seres experienciando a total falta.  Estes dias, me perguntaram se vale a pena estar vivo tendo em vista a descarada má ação do governo de nosso pais e dos “nossos representantes” e do fato da própria população estar solta sem norte, achando errado o certo e certo o errado. Isso não é diferente de outras épocas em outros lugares e cada lugar tem seu tempo de evoluir, na cidade onde moro, que é ao lado de uma metrópole atrasada, as pessoas achavam que um meio de transporte ligando as duas cidades de forma ágil iria gerar só mais transporte e ainda, que não iria funcionar. Resultado: 4000 visitantes por final de semana...e o que se tem a oferecer é nada diferente do que sempre teve. Porque falta consciência.
 Nossa nação ainda raciocina no ganho do hoje e para si, e nem lembra dos próprios filhos. Saindo daqui, um doido no comando, mata um monte de gente com armas químicas e voltando para cá, pessoas somem por homicídio todos os dias por todo país, ninguém sabe e ninguém viu, mas ao invés de nos desesperar,  devemos perguntar porque nós estamos aqui e agora. Muitos detestam estar na Terra, sentem falta “de casa”. Então porque vieram? Simples, ajudar, ou vir para um local condicente com seu próprio grau evolutivo, que talvez fosse incompatível com a “casa” de onde veio. Ou ao contrário, evoluiu muito e só  esta aqui como adaptabilidade para depois ir para um local onde seja uma passo a frente do que se está, mas o fato é que estamos aqui porque é aqui que devemos atuar. E neste contexto cada religião, ou grupo de estudos e caridade, mesmo não religioso, faz sua parte. Aqui no Brasil vai ser difícil o budismo se espalhar  entre a população carente salvo se muito trabalho de caridade for feito. Já temos o Cristo que sofreu, e isso é bem mais próximo da realidade de muitos do que um príncipe que abdicou de seus bens, o que pra muitos é uma total loucura. Mas se mostrarmos o budismo caridade, que é um espiritismo mais antigo, e o é de fato. Não um budismo de adoração a Buda, pois pouco importa o nome de quem adoramos, mas os arquétipos e preceitos que absorvemos, adaptado a nossa realidade, aprendendo, por exemplo, como viver, evoluir,  mudar cada coisa a partir do dentro, a partir de nós e com o altruísmo de ser para o mundo, pois afinal, todas as coisas estão ligadas. Uma crise no Oriente Médio aumenta o valor do tomate no Brasil.
Os ensinamentos do Sr. Buda são como de muitos Mestres, para todos. Compaixão, mudar a si mesmo, e como fazer isso (importante: o budismo nos ensina como fazer a mudança interna), como viver com alegria e construir algo bom mesmo na total miséria como vemos povos da Himalaya ou em regiões como o Butão. Compreender que podemos consumir, que é a realidade mercadológica do momento, mas sem ter necessidade emocional disso e para tanto não precisamos espancar as crianças, fazer uma grande maracutaia para roubar para si quando toda população paga pelo problema, matar por matar e destruir a natureza porque simplesmente não temos nenhuma noção do que esta sente e de sua importância por mais que determinados segmentos da mídia mostrem. Curar a dor interna, a loucura social interna, estes são ensinamentos do budismo que valem ser aprendidos. Mas sem radicalismos, pois não vivemos na época e nem no pais de Siddharta, como não vivemos na época e nem no país de Cristo, podemos e devemos amar uns ao outros como a nós mesmos, podemos e devemos começar por limpar o ego da mente, mas compreender que discriminar gays, negros, mulheres como se fossem algo diferente do que nós mesmos, gente, por exemplo, achar que Deus vai nos amar mais ou menos porque não cortamos os cabelos, ou porque fui para cama com o marido orando para não ter desejo por ele, é como largar até agua encanada, pois na época de Cristo e Buda isso era privilégio de alguns gregos e romanos apenas. A luz está dentro de nós e vamos busca-la. Esta luz traz uma felicidade incomensurável e esta trasborda para tudo e todos. Quanto tempo vai levar???  MIlênios???? Talvez, mas nós vamos e voltamos e se não somos nós serão outros, então comecemos a fazer a manutenção e a atualização de um jardim plantado em milênios de humanidade para sentirmos o aroma das flores e para no futuro não ficarmos sem elas.
A Lótus vem propor praticas, ações e ensinamentos simples, para uma vida simples, pois dentro da correria atual, se complicar ninguém faz e pouquíssimos tem dinheiro para ir ao Nepal meditar, as vezes sequer ir ao centro de praticas budistas, pois não compreende aquele monte de divindades e comportamentos vindos de outras culturas. Nunca vou dizer que o Lótus é a verdade máxima ou o único caminho, pois isso seria puro reflexo do ego e peço que no futuro, nem que seja distante nenhuma pessoa que ensina o Lótus diga tal coisa. São muitas as formas de se chegar a luz, são muitos os caminhos de se comungar com o Buda essencial, ou com o Cristo ou diretamente com Deus, o Lótus é apenas uma deles, simples e amoroso que veio para ajudar. Quem decidir praticar que seja com amor a si e por amor ao todo e este amor transbordará  elevando e qualificando a vibrátil planetária (cósmica até), mesmo para os não praticantes mas que são também nossa família, parte do nosso ser, como somos parte da Terra.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Conselhos Essenciais ao Rei Trisong Detsen - ensinamentos de Padmasambhava

Conselhos Essenciais ao Rei Trisong Detsen

Conselhos Essenciais ao Rei Trisong Detsen

Emaho! Grande rei, por favor me ouça:
Não há essência nos afazeres mundanos.
Ao invés de se revolver infinitamente no ciclo de sofrimentos, de novo e de novo,
Tenha certeza de atingir o reino duradouro do rei Dharmakaya.

Realize a essência dos objetos, a esfera última não-nascida.
Vague na essência do lugar, a solitude nas florestas.
Olhe para a essência dos eremitérios, a natureza última, [a união de] claridade e vacuidade.
Descanse na essência da casa, a natureza inata da mente.
Prepare da essência da cozinha, a natureza inata da mente.
Desenvolva a essência do tesouro, a dupla bodhichitta.
Tenha a essência da riqueza, as duas acumulações.
Esforce-se na essência dos méritos, os dez atos virtuosos.
Tenha a essência da paternidade, compaixão pelos seres.
Sustente a essência da maternidade, a natureza da vacuidade.
Tenha a essência dos filhos, a inseparabilidade dos estágios de desenvolvimento e completude.
Medite sobre a essência da esposa, a claridade, êxtase e não-pensamento.
Olhe para a essência dos amigos, os ensinamentos do sugata [Buddha].
Observe a essência da mandala, a claridade imutável.
Obedeça à essência dos ensinamentos, domar a própria mente.
Veja a essência da Visão, a claridade e vacuidade imutáveis.
Descanse na essência da Meditação, a natureza da mente, como ela é.
Desmanche as delusões dualistas, a essência das Ações.
Realize a essência dos resultados, a perfeição espontânea sem esforços.
Então você será feliz tanto nesta vida quanto na próxima
E rapidamente atingirá o estado búddhico.

Quando a hora chegar, se você seguir meus conselhos, aceite o dharmadhatu como seu país essencial e deixe sua terra natal.
Adira aos retiros nas florestas e lugares remotos como seu lugar de permanência essencial e deixe sua casa para trás.Pratique o dharmata vazio e luminoso como sua meditação essencial e permaneça em reclusão.
Como sua casa essencial, permaneça no dharmadhatu ilimitado.
Como seu conhecimento essencial, mantenha a atenção e a presença da mente e se esforce na prática espiritual.
Como seu tesouro essencial, junte a riqueza dos três kayas na natureza básica da mente iluminada.
Como seu mérito essencial, não deixe seu corpo, fala e mente na ordinariedade, mas sim pratique o Buddhadharma sublime.
Como seu conselho essencial, confie nas palavras do Sugata e de seus lamas.
Como sua paternidade essencial, preste respeito a Samantabhadra, compaixão, e seja bondoso com todos os seres.
Como sua maternidade essencial, preste respeito a Samantabhadri, bondade amorosa, e estime todos os seres como seus próprios filhos.
Como sua esposa essencial, medite sem distração sobre o samadhi da luminosidade e vacuidade, e mantenha companhia constante com ela.
Como sua prole essencial, copie as escrituras dos Sugatas, e escrutine e mantenha seu significado em mente.
Como sua fazenda essencial, cultive o campo da fé e se engaje nas ações que estão em harmonia com o Dharma.
Como seu séqüito essencial, mantenha-se com dakinis e protetores, e os presenteie com oferendas de festa e com tormas.
Como sua comida essencial, coma do néctar não-surgido do dharmata e pratique o samadhi imutável.
Como suas bebidas essenciais, beba do néctar das instruções orais de seu lama e suplique a ele repetidamente.
Como sua roupa essencial, receba as iniciações e os compromissos sagrados e os leve à perfeição.
Como seu entretenimento essencial, engaje-se no samadhi da emanação e absorção e treine na expressão do estado desperto.
Como seu deleite essencial, pratique a meditação e a sadhana, e leve seu corpo, fala e mente à maturidade através dos estágios progressivos da prática do Dharma.
Como seu espetáculo essencial, treine gradualmente no desenvolvimento e completude, e os aplique na prática.
Como seu espírito guerreiro essencial, faça oferendas constantes à divindade de sabedoria.
Como seu capelão de corte essencial, visualize o mestre-vajra no topo de sua cabeça e suplique a ele.
Como sua atividade essencial, tenha as escrituras copiadas e as dê a quem quer que precise delas.
Como seu espelho essencial, olhe para o Dharma sagrado e se esforce em fazer súplicas.
Como seu templo essencial, medite sobre o seu corpo como sendo a mandala e visualize a divindade meditacional.
Como seu ornamento essencial, treine nos quatro imensuráveis e aja pelo bem-estar dos seres, sem parcialidade ou prejuízo.
Como sua prática de Dharma essencial, descanse sua mente no não-fabricado estado inato da vacuidade e luminosidade.
Como seu samaya essencial, olhe constantemente para a sua mente e revele a pureza de sua natureza.
Como sua instrução essencial, mantenha seu caráter livre do engano e da hipocrisia, e medite sobre o conselho oral da linhagem do ouvir.
Como sua mandala essencial, incessantemente descanse a sua mente no estado inato.
Como sua visão essencial, olhe para o dharmakaya imutável e reconheça seu rosto natural.
Como sua meditação essencial, pratique a divindade meditacional do não-surgimento e se torne estável no estado inato.
Como sua conduta essencial, aja sem aceitar ou rejeitar e seja livre do apego.
Como sua fruição essencial, não procure o resultado em qualquer lugar, já que os três kayas estão inerentemente em você mesmo.
Se você praticar de acordo com isto, atingirá o estado búddhico em Sukhavati após esta vida, nascendo dentro do botão de uma flor de lótus.

Assim Padmakara deu esta profecia ao rei Trisong Detsen.


(Advice from the lotus born: a collection of Padmasambhava's advice to the dakini Yeshe Tsogyal and other close disciples. Introdução de S.E. Tulku Urgyen Rinpoche, tradução de Erik Pema Kunzang e edição de Marcia Binder Schmidt. Kathmandu: Rangjung Yeshe, 1994. Pág. 141-142.)

Khatag, a Echarpe da Felicidade - ensinamentos de Padmasambhava

Khatag, a Echarpe da Felicidade

Khatag, a Echarpe da Felicidade

Conta-se que o rei do Tibet [Trisong Deutsen], que não era buddhista, andava muito ressentido com o respeito e a veneração que o povo do Tibet mostrava para com o grande mestre indiano Padmasambhava. Parecia-lhe, na verdade, que reverenciavam mais a Padmasambhava do que a ele mesmo. Assim, o rei decidiu assegurar-se que, quando o grande mestre o visitasse, todos os chefes do país veriam aquele a quem tanto honravam render homenagem a seu rei.

No dia da visita de Padmasambhava, todos os cortesãos foram congregados para vê-lo render homenagem ao rei; este, com grande ansiedade, também esperava para conhecer o grande mestre. O altivo rei mal pôde ocultar o seu grande prazer quando Padmasambhava levantou os braços como que para prostrar-se diante do trono real; mas, ao invés disso, das mãos de Padmasambhava saíram chamas que alcançaram as roupas do rei, queimando-as em segundos. Enquanto os cortesãos tratavam de apagar as chamas a golpes, o rei, sufocado pela fumaça que subia de sua echarpe cerimonial, retirou-a dos ombros. Comprovando o grande poder do mestre o rei lançou-se aos pés de Padmasambhava em submissão, e lhe ofereceu a echarpe em sinal de humildade. Padmasambhava aceitou a echarpe, mas logo a devolveu ao rei, colocando-a ao redor do seu pescoço, como um signo de bênção e da vitória da autoridade sacerdotal sobre o poder temporal.

E assim, diz-se no Tibet, terra de poucas flores, que Padmasambhava estabeleceu o oferecimento de khatags de felicidade, como demonstração de respeito.

Khatag é uma tira comprida de tecido, geralmente branca, uma espécie de longa echarpe, que pode ser confeccionada com diferentes tipos de tecido, desde a seda até gaze atesada com pó de arroz. Literalmente significa "tecido que une" e simboliza o laço que se estabelece entre aquele que a oferece e o que a recebe.

(Jayang Rinpoche. Contos populares do Tibete: os mais belos diálogos da literatura budista.
Traduzido por Lenis. E. Gemignani de Almeida. São Paulo: Landy, 2000. Pág. 45-46.)

Do Tesouro de Jóias Preciosas para Eliminar Máculas - ensinamentos de Padmansambhava

Do Tesouro de Jóias Preciosas para Eliminar Máculas

Do Tesouro de Jóias Preciosas para Eliminar Mácu
las

No eremitério de Samye Chimpu, a senhora Tsogyal, princesa de Kharchen, implorou ao mestre Padmakara [Padmasambhava]: Por favor preste atenção, grande mestre! Apesar de você ter mostrado a uma garota não-inteligente como eu que todo o mundo e os seus seres são o dharmakaya, ainda assim minha prática do Dharma desvia-se no entendimento teórico devido à minha companhia contínua com o hábito da percepção deludida. Imploro a você: conceda bondosamente sobre mim a instrução para me permitir juntar qualquer coisa que eu faça com a natureza inata do dharmakaya!

Padmasambhava respondeu: Tsogyal, ouça! Você deve possuir estes três pontos chave quando praticar os ensinamentos do Mantra Secreto do grande veículo — o ponto chave do corpo, a postura; o ponto chave dos olhos, o olhar; e o ponto chave da mente, o modo de descansar.

Antes de tudo, em um lugar recluso, sente-se na posição de pernas cruzadas sobre um assento confortável, descanse seus braços e estique sua coluna. Se o seu corpo permanecer em seu estado original, a meditação ocorrerá naturalmente. Sem assumir a postura física, a meditação não acontece.

Em seguida, quanto ao olhar, não feche seus olhos, nem pisque ou olhe para os lados. Olhe diretamente e sem oscilar para frente. Já que a visão e a consciência compartilham uma única natureza, a meditação ocorre naturalmente. Sem o olhar correto, a meditação não acontece.

O ponto chave da mente é não deixar o estado natural de sua mente ordinária seguir padrões habituais passados, não deixá-la olhar para as atividades futuras das emoções perturbadoras e não deixá-la fabricar qualquer coisa no seu estado presente através da conceitualização. Descansando a consciência em seu estado natural, a meditação ocorre naturalmente. Se você estiver distraída ou difusa, a meditação não acontece.

Quando você deixar suas três portas descansarem em seu estado natural deste modo, todos os pensamentos grosseiros e sutis se acalmam e sua mente permanece solta em si mesma. Isso é chamado Shamatha, descansar calmamente. [Quando sua mente está] não-obstruída, sem localização e nua na lucidez espontânea, [isso é chamado Vipashyana]. Quando estes dois, em um instante consciente, permanecem vivamente claros como uma identidade indivisível, isso é chamado Shamatha inseparável de Vipashyana. Entendimento Intelectual é quando você mantém a consciência como um objeto; Experiência é quando você descobre sua não-localização; e a Realização ocorre quando estes estados de mente permanecem vivamente claros como a essência de sua prática de meditação. Isto não é diferente da realização dos buddhas dos três tempos. Não é uma fabricação baseada nas instruções profundas do lama, nem um resultado da inteligência aguda do discípulo. É chamado de chegar ao estado natural da Base.

Quando meditar deste modo, surgirão as experiências [tib. nyam] de Êxtase, Claridade e Não-Pensamento.

A consciência livre do pensamento conceitual é chamada Não-Pensamento e tem três tipos. "Nenhum pensamento bom" significa livre de apego ao meditar e ao objeto de meditação. "Nenhum pensamento ruim" é a interrupção do fluxo de pensamento conceitual grosseiro e sutil. "Nenhum pensamento neutro" é o reconhecimento da face natural do estado desperto como sendo sem localização.

Durante este estado de não-pensamento, a Claridade é não-obstruída, radiação nua do estado desperto. Há três tipos de claridade. "Claridade espontânea" é o estado de ser livre de um objeto. A "claridade original" não aparece por uma duração temporária. A "claridade natural" não é feita por ninguém.

Há quatro tipos de Êxtase. O "sentimento de êxtase" é livre das condições adversas de desarmonia. O "êxtase completo" é livre do apego à fixação dualista. O "êxtase incondicionado" é livre de causas e condições.

Quando estes três tipos de experiência surgirem, você precisará das três analogias do desapego: o desapego ao êxtase é como um louco; o desapego à claridade é como o sonho de uma criança pequena; e o desapego ao não-pensamento é como um yogi que aperfeiçoou sua disciplina yógica. Quando você possui estes três, você está livre dos defeitos da meditação.

Se você se fascinar e se apegar a estas três experiências passageiras, você se desviará para os três estados da existência. Quando se apega ao Êxtase, você se desvia para o reino do desejo; quando se apego à Claridade, você se desvia para o reino da forma; e quando se apego ao Não-Pensamento, você se desvia para o reino sem forma.

Mesmo que você pense que não está nem apegada nem agarrado a eles, você mantém um sutil apego interno. Para cortar esta armadilha, há os Nove Estados Serenos da Permanência Sucessiva, começando com os Quatro Estados Dhyana da Serenidade para descartar o pensamento do desejo. O primeiro dhyana é livre do pensamento conceitual de percebedor e percebido, mas ainda está em discernir um objeto e um ato de meditação. O segundo dhyana é estar livre do pensamento conceitual e do discernimento, enquanto ainda se fixa em experimentar o sabor do samadhi da alegria. O terceiro dhyana é atingir uma mente inamovível mas com inalação e exalação. O samadhi do quarto dhyana envolve se tornar totalmente livre do pensamento conceitual com a não-obstruída percepção clara.

Os Quatro Estados Sem Forma da serenidade eliminam o pensamento conceitual do reino da forma. Permanecendo no pensamento de que "todos os fenômenos são como o espaço", você se desvia na [esfera de percepção do] Espaço Infinito. Permanecendo no pensamento de que "a consciência é infinita e sem direção", você se desvia na Consciência Infinita. Permanecendo no pensamento de que "a cognição clara da percepção não está presente, nem ausente, e não pode ser transformada num objeto do intelecto", você se desvia na Nem Presença Nem Ausência. Permanecendo no pensamento de que "esta mente não consiste de qualquer entidade, é não-existente e vazia", você se desvia na esfera de percepção do Nada Mais. Estes estados possuem a mácula sutil de serem conceitualizações, fascinações mentais, e experiências da mente dualista.

A serenidade da cessação descarta os conceitos de todos estes estados. A cessação analítica é o cessar do engajamento das seis consciências com seus objetos, o que envolve descansar calmamente na interrupção do movimento da respiração e da mente dualista. A cessação não-analítica é chegar à sua natureza inata. Essa é a indiferença última.

Entre os Nove Estados de Serenidade, os Quatro Estados Dhyana são "o Shamatha que produz Vipashyana". Assim o samadhi destes quatro dhyanas está em harmonia com a natureza inata e é o mais eminente de todos os tipos de samadhi mundano.

Os Quatro Estados Sem Forma da serenidade são as armadilhas do samadhi. A serenidade da cessação é o samadhi pacífico de um ouvidor.

Reconhecendo estes estados você pode distinguir os diferentes tipos de samadhi, purificar as máculas em sua prática de meditação e evitar se desviar.

Os Cinco Caminhos estão incluídos dentro de três. Tendo cortado estas armadilhas e praticado uma meditação sem defeitos, você permanece serena e vivamente no Êxtase, Claridade e Não-Pensamento durante o estado de meditação. No estado de pós-meditação, as aparências surgem não-obstruidamente e são tão insubstanciais quando um sonho ou uma ilusão mágica. Você entende a natureza da causa e efeito, preenche a medida de mérito até o borda, atinge o "calor do samadhi" e assim aperfeiçoa o Caminho da Acumulação.

Praticando assim durante um longo tempo, você vê na realidade, sem localização e auto-cognitiva, a natureza presente em você mesma. Reconhecer sua face natural é o Caminho da Visão. Experienciando a aparência, o estado desperto e a vacuidade como sendo sem localização, você vê diretamente a incondicionada natureza inata. A obstrução das emoções perturbadoras é destruída em sua raiz. Realizando a causa e efeito são vazios, o samsara não tem existência sólida. Isto é chamado o primeiro estágio [do bodhisattva, o estágio] do Alegre. O estado de meditação é indivisível do estado búddhico e tudo no estado de pós-meditação surge como uma ilusão mágica.

Familiarizando-se com este estado e o sustentando firmemente, todos os fenômenos tornam-se não-duais. Reconhecendo-os como uma auto-exibição, as aparências e a mente fundem-se em um. Quando a vacuidade surge como causa e efeito, você realiza a originação dependente. Durante o estado de meditação todos os fenômenos são sem localização e presentes como a essência do estado desperto. A presença sutil das aparências objetivos durante o estado de pós-meditação é o Caminho do Cultivo.

Mantendo isto durante um longo tempo, você realizará que todos os fenômenos do samsara e do nirvana são não-duais, além do surgimento e da cessação, não-misturados e completamente perfeitos, sem localização e auto-cognitivos. O obscurecimento cognitivo desaparece totalmente e o próprio momento em que tudo desponta como a lucidez original é o Caminho da Consumação, o estado búddhico.

(Advice from the lotus born: a collection of Padmasambhava's advice to the dakini Yeshe Tsogyal and other close disciples. Introdução de S.E. Tulku Urgyen Rinpoche, tradução de Erik Pema Kunzang e edição de Marcia Binder Schmidt. Kathmandu: Rangjung Yeshe, 1994. Pág. 68-72.)

Mente Essêncial - ensinamentos de Padmasambhava

A Mente Essencial

A Mente Essencial

O rei Trisong Detsen perguntou a Orgyen Rinpoche Padmasambhava: "Grande mestre, a fim de os seres sencientes causais realizarem o resultado do estado búddhico, bem no início a visão da realização é crucial. Então quem está dotado com a visão da realização?"

O mestre respondeu: "O ápice de todas as visões é constituído pelas instruções essenciais e práticas para a iluminação. Todas as galáxias, todos os sugatas dos três tempos e das dez direções e todos os seres sencientes dos três reinos são uma realidade: eles estão incluídos na mente essencial da bodhichitta. Isso que é chamado 'mente' é não-criado e se manifesta de vários modos."

"Bem, então, qual é a diferença entre os buddhas e os seres sencientes?"

"Nenhuma além de sua realização e não-realização da mente. Desconhecido para você, o Buddha está presente dentro de você. Devido à falha em reconhecer a natureza essencial da mente, você vaga entre os seis estados da existência."

"Bem, então, qual método há para penetrar a mente?"

"Para isso, as instruções práticas de um lama são necessárias. A assim-chamada 'mente' existe como uma experiência da atenção e do conhecimento. Não observe a mente externamente, mas sim internamente. Procure a mente com a mente. Estabeleça a mente em si com a mente. Observe: onde a mente inicialmente surge, onde ela está localizada agora e aonde ela vai no final? Quanto a isto, observando por você mesmo a sua mente, nenhum lugar de origem, nenhuma localização e nenhum destino são encontrados. Não há como indicar sua natureza essencial dizendo, 'É deste modo...' Assim, não tendo exterior ou interior, e não tendo observador ou observado, a mente é a grande sabedoria primordial, livre de centro ou periferia, grande, vazia, sabedoria primordial, originalmente livre e permeando tudo. A sabedoria primordial, que é naturalmente presente em seu próprio modo de ser, não é algo criado. O reconhecimento da presença da sabedoria primordial em você mesmo é a visão. Esforce-se para penetrá-la!

"O solo e o que tem o solo é como o espaço, primordial e espontaneamente presente. É como o sol, não tendo base para a escuridão da ignorância. É como um lótus, não-manchado pelas máculas. É como o ouro, que não muda da natureza da realidade em si. É como o oceano, sem movimento. É como um rio, sem interrupção. É como uma presença, sem encontrou ou partida. É com o Monte Meru, sem se mover ou mudar."

(Citado em Naked awareness: Practical instructions on the union of Mahamudra and Dzogchen.
Karma Chagme, com comentário de Gyatrul Rinpoche, traduzido por B. Alan Wallace,
editado por Lindy Steele e B. Alan Wallace. Ithaca: Snow Lion, 2000. Pág. 109-110.)